Intolerância com a falta de execução

21/12/2009

Intolerância com a falta de execução
O mundo pertence a quem executa. Gente que faz e que não tolera o faz-de-conta. Nunca vi em praça pública uma estátua para um crítico ou para um falador. Vejo estátuas para quem executou. Muitas empresas ainda são muito inexperientes para avaliar e para selecionar profissionais com alta capacidade de execução.

Existe extensa bibliografia sobre planejamento estratégico, tático e operacional, mas praticamente inexistem obras sobre EXECUÇÃO. Existem muitos que sabem o que deve ser feito, outros sabem como fazer e alguns sabem falar como fazer. Não gosto de nenhum destes perfis, prefiro os que fazem. Grandes empresas adoram gente que faz e que obtém resultados. Muita retórica, executivos brilhantes mas apáticos, currículos lotados de títulos, dezenas viagens para o exterior, nada disso é garantia de que as coisas finalmente acontecerão. È lógico que uma boa formação acadêmica, treinamento e experiência internacional são bem-vindos, mas se não vierem acompanhados da execução e do resultado, para nada valem.

Frequentemente falamos “boa idéia!” mas quase nunca exclamamos “boa execução!”. O que uma empresa precisa fazer, então, para desenvolver a cultura da execução? Em primeiríssimo lugar, somente selecionar perfis de quem executa. Gente que põe a mão na massa, cavalo de arado e não cavalo de circo, é fundamental para a continuidade de uma companhia. Depois vêm o treinamento na identificação das causas e a elaboração de planos de ação. Essencial também é acompanhar a execução dos planos de ação. Muitos executivos pecam gravemente neste último item, pois querem resolver problemas apenas olhando os resultados e ignorando os planos de ação. Por que as empresas têm dificuldades com a execução? Porque desprezam a REALIDADE. Para executar bem, é necessário enfrentar a realidade nua e crua e muitos presidentes e diretores não desejam enxergá-la. As causas estão na vida real, muitas vezes bem debaixo do nariz dos gestores. Ignorando-as é impossível executar!

Em uma consultoria, perguntei para um gerente por que seu diretor não implementou algumas ações. O gerente respondeu: “Ele realmente não faz muitas coisas, Mubarack, mas ele é um cara estratégico!”. Que desculpa esfarrapada! Não sei se o gerente apenas quis “livrar a cara” do seu chefe ou se realmente acredita na bobagem que disse. Às favas com “caras estratégicos”! Normalmente são bobalhões bem articulados que só enrolam e pouco produzem. Políticos ao extremo, vivem pendurados no poder, falando muito e fazendo pouco.

Nunca vi em praça pública uma estátua para um crítico ou para um falador. Vejo estátuas para quem executou.

As empresas precisam conduzir a questão da capacidade de execução com muita seriedade. Certa vez, participava da reunião de diretoria de um cliente e estávamos debatendo quem iria substituir o gerente-geral de produção daquela unidade. Eu defendia a promoção de um gerente “prata da casa”. O presidente e o diretor de RH reconheciam a capacidade de execução deste gerente, mas ele não parecia ter glamour por ser da casa. Estavam deslumbrados com um profissional que um head hunter havia indicado. “Ele é fantástico”, disse-me o diretor de RH. Fiz duas perguntas e ambos ficaram vermelhos. Perguntei para o diretor de RH no que o profissional mencionado era fantástico. Quais eram suas principais realizações comprovadas com evidências? Não houve resposta clara. Perguntei para o presidente quais eram os três critérios inegociáveis para ocupar aquele cargo. Ele não sabia com profundidade. Respondeu-me de maneira superficial. Insisti na clareza da resposta e toda a diretoria envolveu-se em um debate produtivo. No final, disseram-me: “para ser gerente-geral de produção, o profissional precisa conhecer profundamente nosso processo de manufatura, precisa conhecer os principais fornecedores e as opções de materiais, precisa estar alinhado com nossos valores bastante peculiares e necessita ter habilidade para lidar com o sindicato, muito atuante em nossa região”. Descobrimos, quando cruzamos estas características com o perfil do profissional externo que estava deslumbrando parte da diretoria, que não sabíamos praticamente nada sobre o homem que até então era classificado como “fantástico”. Quando dados foram levantados, também descobrimos que ele estava longe de ser o profissional de que a empresa necessitava. O gerente da casa foi promovido e teve, nos próximos anos, excepcional desempenho.

Uma derradeira orientação para o presidente ou principal executivo: ele precisa envolver-se no nível do detalhe nos principais planos de ação da empresa. Garantir a execução é uma das principais responsabilidades do líder. É tarefa indelegável do número um. Do contrário, ele passará a mensagem de que não se importa com a execução.

Paulo Ricardo Mubarack

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