Líderes e liderados

03/01/2012

Líderes e liderados
Experimentamos nas últimas duas décadas uma overdose sobre liderança, talvez o tema mais explorado pelas escolas de negócios e pelas empresas de consultoria e treinamento. Corretíssimo, mas parcial. O outro lado da moeda, com igual relevância e que não pode ser esquecido, é o dos liderados, os famosos “carregadores de piano”. Tão essencial quanto a liderança é a equipe que vai entender, assumir e colocar em prática, em todos os detalhes, as diretrizes do líder. O cuidado com os liderados é fundamental até mesmo para consolidar a boa liderança e facilitar o cumprimento das metas.

Há vasta literatura sobre liderança. Talvez o maior número de livros, vídeos e cursos que possa ser encontrado seja sobre liderança. Muito se fala em ter bons líderes, o que é correto, nada a reparar. Também incluo em meus serviços de consultoria o tema “desenvolvimento gerencial”, onde ensino que um líder deve cumprir rigorosamente três tarefas: bater metas, desenvolver pessoas e difundir e consolidar profundamente os valores de sua empresa. Mas um assunto que também se impõe e que tem igual relevância é o desenvolvimento dos liderados. “Desenvolvimento de liderados?”, alguém pode perguntar. Sim, o desenvolvimento dos liderados é vital para que o líder possa ter o seu papel facilitado e para que as empresas não tenham que procurar um perfil milagroso, que com uma equipe ruim e despreparada cumpra aquelas três tarefas citadas anteriormente. Pode um líder atingir seus objetivos com uma equipe ruim? Pode, mas o dispêndio de energia será imenso. Se não houver alternativa, então que seja assim, mas não precisamos meter nossas empresas nesta encrenca. Precisamos de competência nos dois lados: líderes e liderados. Este texto é raro porque fala sobre os liderados. Quem são eles? Onde encontrá-los? Qual é seu perfil? Muitos os conhecem pelo apelido de “carregadores de piano”. Eles são exatamente isto e não há qualquer ironia ou menosprezo neste apelido, ao contrário... A falta deles faz com que bons líderes da Europa, Ásia ou USA cheguem ao Brasil, assustem-se com nossas equipes e, muitas vezes, fracassem rotundamente. Eles estão preparados para lidar com perfis mais disciplinados, com mais escolaridade e mais comprometimento e simplesmente não sabem o que fazer diante de empregados indolentes, desobedientes e relapsos. Já vi vários estrangeiros com currículos bacanas serem enxotados das filiais brasileiras pela incapacidade para lidar com liderados não tão qualificados.
Em resumo, desenvolver um líder não é desenvolver um santo milagreiro, que baterá as metas com uma equipe ruim. Você não precisa ter um grupo de doutores como liderados, mas não se esqueça de desenvolvê-los o quanto você puder.
Educação continuada, auxílio para melhorar a escolaridade, elaboração de padrões escritos com os modelos mentais dos líderes, difusão dos valores e muito, mas muito treinamento.

Aproveitamento da “prata da casa” e valorização do perfil médio, mas disciplinado, com vontade de aprender e que goste da empresa. Prestar mais atenção nos liderados significa ter um plano de treinamento muito bem elaborado pelos gerentes (líderes) e auxiliado por RH. Significa ter um excelente sistema de avaliação de desempenho e um programa de remuneração variável que não dê apenas aquele “mixuruca um salariozinho” no final do ano. De que adianta prometer vinte salários para o presidente e oito salários para os líderes se os liderados terão apenas um incentivo muito acanhado?

Aliás, quando mencionei que uma das três tarefas dos líderes é desenvolver suas equipes, estou me referindo justamente a isto: desenvolver os carregadores de piano. Eles são essenciais.