Quando se implanta um pouco de cada método, paga-se caro por "nada"

03/05/2010

Quando se implanta um pouco de cada método, paga-se caro por
O trabalho de uma consultoria em gestão se divide em três partes: conhecimento técnico, método e desenvolvimento de atitudes. A maioria das consultorias mexe pouco no método e simplesmente ignora o trabalho junto à cultura. Desta forma, muitos trabalhos de implantação se resumem à documentação, o que é uma lástima.

Observe-se a dúvida relatada por um leitor referente ao seu sistema de gestão (omiti o produto da empresa e o setor que ela atende para manter sua identidade completamente preservada):

“Mubarack, um dos nossos principais negócios é o produto X. Fornecemos este produto para empresas do setor Y. Nossos clientes exigem implantação da ISO TS. Estamos trabalhando na implantação há um ano e meio. Realizamos, neste mês, auditoria interna onde nossos auditores foram acompanhados por um auditor externo com muita experiência. O resultado foi muito ruim. Foram apontadas 50 não-conformidades. O auditor externo comentou inexistência de cultura na empresa para as exigências do setor Y. Concordamos totalmente com nossas deficiências, mas como, ou melhor, quais seriam os passos para mudança de cultura num caso desses, considerando que já fornecemos para o setor Y há mais de dez anos?”.

Julguei a pergunta de tamanha importância que resolvi transformá-la em um artigo. Minha resposta ampliada para esta dúvida é: sempre que implemento o SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO em uma empresa costumo afirmar que o trabalho de consultoria se divide em três partes: conhecimento técnico (que é formalizado no sistema de documentação e que envolve procedimentos, registros, manual da qualidade etc.), método (é o padrão gerencial da empresa, planejamento estratégico, planejamento operacional e processo de tomada de decisão) e desenvolvimento de atitudes (evolução da cultura da empresa, valores, liderança e desenvolvimento gerencial). A maioria das consultorias mexe pouco no método e simplesmente ignora o trabalho junto à cultura (porque é o mais delicado e difícil e também por ignorância em relação ao tema). Desta forma, muitos trabalhos de implantação se resumem à documentação, o que é uma lástima. Além disto, implantar ferramentas isoladas não adianta para quase nada. O conjunto integrado das ferramentas (o que eu chamo de SIG – sistema integrado de gestão) é o que realmente funciona. Como mencionei no início deste parágrafo, o SIG é método, conhecimento técnico e atitudes. Neste trio, as atitudes são intocadas na maioria dos trabalhos, o que compromete seriamente os resultados. Portanto, sempre aviso para quem contrata minha empresa: não espere apenas a implementação de procedimentos e de formulários. Espere, além da parte formal e metodológica, minha inserção na sua cultura. Reestruturação do RH, desenvolvimento da verdadeira inteligência gerencial e definição do seu código de ética. Em um próximo texto, vou comentar com mais ênfase a utilização paupérrima de instrumento tão poderoso. Se não revirarmos a terra em uma empresa, a fertilização não acontecerá e a colheita será muito pobre.

Um empresário, muito meu amigo além de cliente, certo dia desabafou: “Mubarack, me acha um gerente. Pago o que for preciso”. E eu perguntei para ele: onde você acha que alguém aprende a ser gerente? Em MBAs? Ao natural? É claro que não. Os gerentes não têm onde aprender. Resta sua empresa desenvolvê-los. Os poucos “prontos” que existem estão muito bem empregados e custam muito caro. Eu estimo que sua empresa, leitor, tenha um vigoroso processo de desenvolvimento gerencial. Eu lastimo se não tiver. Você vai pagar caro em troca do nada. Ah, ia esquecendo: a pergunta objetiva do meu leitor foi: quais são os passos...? A resposta objetiva é:

1. Faça um planejamento profundo de sua empresa, onde ela seja revirada em suas entranhas.

2. Programe um vigoroso processo de mudança cultural e de desenvolvimento gerencial, definido a partir das conclusões do planejamento. Não esqueça que “mudança cultural” não significa mudar tudo em sua empresa, significa apenas agregar as melhores práticas a tudo o que você já tem de bom e eliminar alguns maus hábitos que certamente você também tem.

Parece pouco, mas é a chave da “virada” em uma organização.

Paulo Ricardo Mubarack

051 81 82 71 12

mubarack@terra.com.br

www.mubarack.com.br

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