A hora de sair e de demitir

11/07/2013

A hora de sair e de demitir
Todas as pessoas têm prazo de validade nos seus atuais postos de trabalho, incluindo os dirigentes. Saber quando sair saber para onde ir e saber avaliar o quanto os campeões ainda têm disposição para enfrentar todas as durezas do dia a dia é tarefa difícil, mas indispensável para a perpetuidade dos lucros e de uma organização.

Este assunto é realmente muito delicado: quando alguém precisa sair? É mais delicado ainda quando falamos sobre os donos das empresas. Quando eles devem sair? Devem ou não colocar seus filhos nos principais postos? Quando demitir um executivo sem nenhum motivo aparente? É necessário este tipo de reflexão? Todas as pessoas têm prazo de validade?

Bem, vamos por partes. Em primeiro lugar, a questão que envolve os proprietários e seus herdeiros. A maioria dos principais acionistas de qualquer organização, mesmo as médias (receita líquida anual acima de 100 milhões de reais) acumulam em duas décadas muito dinheiro. Excluindo-se o valor de suas empresas, estas pessoas podem construir um patrimônio pessoal acima de 50 a 100 milhões de reais. A consequência é simples: um empresário com bens pessoais desta ordem e ainda com uma empresa que pode valer duas ou três vezes este valor perde facilmente a sensibilidade para o dinheiro. Pode cometer algumas sovinices, pode ainda ser durão nas negociações, mas tem reduzido todo aquele ímpeto de quando começou. Imaginem-se os herdeiros, que nem começaram, já receberam pronto! E que normalmente tiveram a vida mais suave do que os pais. Sei muito bem que o fundador pode continuar rigoroso nas despesas e que seus herdeiros podem dirigir o negócio com boa qualificação, mas a fome nunca será igual à de quem tem que lutar quase sem dinheiro. Os velhos vão amolecendo e os jovens herdeiros nunca chegarão a enrijecer como seus pais o fizeram em algum lugar do passado. O animal satisfeito dorme! A empresa deixa de ser excepcional como nos áureos tempos e torna-se apenas boa. Esta mudança na prática pode significar alguns milhões ou bilhões jogados no lixo, a perda de posições no mercado e o início de uma lenta, mas inexorável, decadência. Temos centenas de casos para comprovar estas afirmações. Muitos pensadores atribuem o declínio das empresas familiares à arrogância dos mais velhos e à inexperiência dos mais jovens misturada com certa petulância, e não deixam de estar corretos, mas eu acrescento uma causa ainda mais raiz do que as citadas: o amolecimento causado pelo patrimônio pessoal das famílias proprietárias e que deixa a todos os seus membros tranquilos... demais.

Há alguns anos, o herdeiro de um grupo brasileiro mostrou-me a foto do seu filho de 4 anos e disse-me, cheio de orgulho: “Não é um lordezinho?”. E eu pensei: “Puxa, que merda, os lordes normalmente são vagabundos e detonam com o patrimônio das suas famílias”. Seria melhor que fosse um trabalhador desafiado para arrebentar o inimigo e vencer a qualquer custo e não um nobre aristocrático cheio de rapapés! Nunca vi um destes vencer uma guerra nem de batalha naval, aquele joguinho das crianças! Mas empresários ganham dinheiro. O que fazer, então, para evitar a decadência proveniente da boa vida? Algo muito difícil, simples na essência, mas duro na execução: saber quando é hora de sair. O “sair” pode significar vender no melhor momento (e não quando as dívidas chegarem) ou simplesmente afastar-se para o Conselho de Administração (e olhe lá) e implantar vigoroso sistema de treinamento, promoções e bônus extremamente altos para que novos PHDs (Pobres, Honestos e Doidos para ficar ricos) venham com toda energia e conduzam o negócio para outros patamares. Implantar a meritocracia que pune quem não entrega, que é intolerante com a falha e que exalta quem gera resultados de curto E de longo prazos.

Quanto aos executivos que já engordaram seus porquinhos, o raciocínio é: “aos campeões, o desconforto”. Eles devem receber metas cada vez mais fortes e nenhuma regalia fora dos padrões da empresa, como viagens em classe executiva, carros ou secretárias particulares pagas pela companhia. Nada disso, eles devem receber metas muito ousadas e bônus altos. Se estiverem ainda com ânimo, todos ganhamos. Se não quiserem mais pagar o preço alto que o batimento da meta exige (viagens constantes, ausências em casa, 10 horas de trabalho diário, alguns finais de semana sacrificados), então é hora de agradecer-lhes a colaboração e mandá-los embora.

E não esqueça dos PHDs. Prepare-os durante alguns anos. Não busque aristocratas na rua, olhe hoje para sua empresa e comece a enxergar nos cargos mais baixos quem poderia ser o futuro presidente, alguém formado às suas vistas e com os valores da sua organização.

Paulo Ricardo Mubarack