Já ouvi muitos executivos brasileiros afirmando que “os americanos são muito objetivos, é ruim negociar com eles”. Também já ouvi afirmativas semelhantes sobre europeus e japoneses. Isto significa apenas que eles, os estrangeiros, são claros, falam de maneira direta e sem FRESCURA. Jack Welch dedicou um capítulo inteiro da sua obra paixão por vencer para falar sobre a importância da franqueza, concluindo que a sua falta é “devastadora para as empresas”.
Em minha vida de consultoria, já assisti a vários ciclos se completarem. Já presenciei experiências que deram certo e que deram errado. E em todas as situações onde o resultado foi desastroso, havia muita FRESCURA no ambiente da empresa.
Talvez alguém fique chocado ou ache o termo FRESCURA grosseiro, mas esta seria mais uma FRESCURA. Ambientes com FRESCURA são caracterizados por pessoal de RH ou outros assessores “extremamente zelosos” com palavras que poderiam “chocar” a cultura, mas que na prática pouco ou nada conhecem sobre o negócio e tem participação muito pobre nos resultados da empresa, pessoas que falam superficialmente dos problemas, reuniões formais sem que nenhum tema forte seja realmente debatido com profundidade, pessoas que não confrontam com lealdade e transparência, dados ocultados ou manipulados, explicações complexas para assuntos simples, ausência ou duplicidade de dados etc.
Muitas empresas cultivam gerentes, diretores e supervisores “de plástico”, gente apressada em concordar com o dono e que vai para o lado para o qual o vento sopra. Avessos a discussões e à franqueza, rejeitam qualquer indivíduo ou método que traga transparência e debate para a empresa.
Certa vez, eu estava conduzindo uma reunião para debater um problema grave de custos em uma empresa e um diretor “de plástico”, sentado ao lado do dono, não opinava, não contribuía com a reunião e cochichava com frequência no ouvido do proprietário. Irritado pela falta de respeito com a equipe que debatia corajosamente as fraquezas da empresa, repreendi o tal diretor, pedindo que parasse de cochichar e que expusesse publicamente suas opiniões. Ele “acabou” para a reunião! Era um “diretor de plástico”, que, por covardia, preferia não se expor.
Por que um número enorme de empresas não pratica a avaliação de desempenho? Porque estas empresas cultivam a FRESCURA “ambiental”, onde muitos gestores, em todos os níveis, temem dar um feedback direto para seus subordinados.
Criar um clima onde a verdade é dita, ouvida e valorizada, onde os líderes liderem com perguntas e não com respostas, onde exista o diálogo e o debate fortes, onde a mentalidade do “não diga isto, não diga aquilo” seja eliminada, onde pessoas não precisem “pisar em ovos” para falar, onde falar abertamente sobre problemas seja uma atitude bem-vinda, é obrigação da alta administração.
Como é sério o problema da FRESCURA e da falta de franqueza nas organizações! Bloqueia as ideias inteligentes, retarda as ações rápidas e impede que as pessoas capazes contribuam com todo o seu potencial. É algo devastador. Quando se pratica a franqueza – e nunca se é absolutamente franco, esteja certo – tudo funciona com mais rapidez e mais eficácia.
A FRESCURA reduz a velocidade. Uma empresa emergente, que tenha surgido logo ali na esquina, com apenas cinco pessoas, é capaz de movimentar-se mais rápido do que uma gigante cheia de FRESCURAS.
A FRECURA aumenta custos...
Você pode dar-se ao luxo de cultivar a FRESCURA?
Somos educados desde a infância para atenuar as más notícias e adoçar os temas amargos.
Um diretor uma vez me disse: “... é sexta, o final de semana está chegando, você não tem nada positivo para me dizer?”. É impossível imaginar um mundo onde todos possam sair por aí dizendo o que realmente pensam o tempo todo, de forma absolutamente direta. Mas, creia, se você conseguir eliminar metade da FRESCURA que porventura exista em sua empresa, você já estará bem melhor do que a maioria.
Paulo Ricardo Mubarack

Muitas oportunidades para eliminar problemas são perdidas e muitos custos não são evitados porque a FRESCURA predomina no ambiente de trabalho de muitas organizações. Política em excesso, muito cuidado ao dizer as coisas e gestores "de plástico", apenas preocupados em manter o emprego, são característicos deste tipo de empresa. A verdade não é dita nem ouvida e nem valorizada e erros latentes se acumulam, apenas esperando as condições propícias para causar as tragédias.