Um homem entra em um restaurante às 12:30 de uma quarta-feira no centro financeiro de São Paulo. Está com pressa e deseja apenas comer uma folha de alface e beber um copo de água mineral com gás. É atendido com presteza e a única contrariedade acontece no momento da conta, U$ 6,50 (cerca de 26 reais em fevereiro de 2016). Embora os preços estejam no menu, o cliente fica irritado e acha um absurdo tal valor ser cobrado por tão singela refeição. O cardápio prevê este preço para uma salada inteira, mas ele queria comer muito pouco e foi avisado pelo garçom sobre o preço mínimo. Pagou e foi embora jurando nunca mais “retornar a este local de exploradores”.
Este homem precisa de algumas aulas sobre finanças. Ele ignora que, para a alface e o copo de água estarem na sua frente no momento desejado, exatamente no centro financeiro da maior cidade da América Latina, alguém – o dono do restaurante – gastou horas e mais horas debruçado sobre o projeto daquela loja. Contratou arquiteto e engenheiro para elaborar o projeto, aprovou o projeto na prefeitura após um monte de burocratas estatais jogarem com sua paciência, pagou mil taxas e finalmente pode construir. Alugou um terreno, contratou um advogado, um contador e um empreiteiro e fez a obra. Foi ao banco pedir um empréstimo para custear 60% do investimento, novamente entrou no jogo de paciência com a prefeitura para obter o Habite-se, pagou mais taxas e esperou pelo fiscal. Após vencida esta etapa, chegou a vez do Alvará e de mais taxas. Conseguiu finalmente a permissão para trabalhar. Contratou garçons, recepcionista, maitre, cozinheiros, estoquista e uma empresa de TI. Comprou software, máquinas de cartão de crédito, mobília, louças, talheres, instalou ar condicionado e adquiriu seu primeiro estoque de bebidas e de comida. Comprou uma cozinha profissional e decorou o ambiente. Toalhas de mesas, guardanapos, dezenas de itens, energia elétrica, gás e água. Tudo para que alguém com pressa pudesse ter, na hora solicitada, uma salada e água na mesa, servidos por um garçom educado. Este homem acha que os 26 reais vão para o bolso do empresário. Ele ignora todos custos que reduzem os 26 reais para um lucro próximo dos centavos. Ele parece desconhecer também que o lucro é o pagamento devido ao empresário em troca do dinheiro investido, do tempo empregado para bolar e tocar o negócio e principalmente pelo RISCO tomado.
O proprietário do restaurante não organizou este negócio que melhora a vida de tantos clientes porque ama os paulistas. Ele fez porque deseja LUCRO. Por isto, o LUCRO é importante não somente para quem o obtém, mas para todas as pessoas beneficiadas pelos bons produtos oferecidos em seu nome. Na madrugada, enquanto os clientes do meio-dia ainda dormem, o proprietário vai ao mercado comprar legumes e carne fresca para as refeições. Alguém limpa o restaurante, outro cuida da harmonia do ambiente. Cada um trabalha para si, pensando no seu lucro e tornando mais confortável a vida das outras pessoas. Gente motivada pelo lucro faz coisas extraordinárias. Quando esta motivação é ameaçada, o mundo se torna opaco e o convívio humano dirige-se novamente para a barbárie.