O apagão dos novos analfabetos

19/04/2010

O apagão dos novos analfabetos
Tenho assistido à luta titânica das empresas para contratar. Há muito mais vagas do que profissionais capacitados para ocupá-las. Pessoas sem qualificação técnica, com extensos currículos e muitos diplomas, mas com pouco conhecimento teórico e prático e sem as atitudes adequadas de um profissional.

Segundo o dicionário Houaiss: analfabeto é aquele que desconhece o alfabeto; que ou aquele que não sabe ler nem escrever; que ou aquele que não tem instrução primária; que ou aquele que é muito ignorante, bronco, de raciocínio difícil: que ou aquele que desconhece ou conhece muito mal determinado assunto ou matéria.

Tenho assistido à luta titânica das empresas para contratar. Há muito mais vagas do que profissionais capacitados para ocupá-las. Pessoas sem qualificação técnica, com extensos currículos e muitos diplomas, mas com pouco conhecimento teórico e prático e sem as atitudes adequadas de um profissional. A maioria gente muito nova, alguns até mesmo arrogantes, que nada valem no mercado, mas que se acham “o máximo”. Vários não possuem a mínima etiqueta empresarial, têm vida pessoal desorganizada e parecem desconhecer fundamentos da ética e do respeito. Pouca fibra é outra marca registrada deste extenso grupo de incapacitados para o trabalho, muitos não conseguindo resistir às pressões do dia-a-dia. Vivemos um apagão de mão-de-obra.

O problema é grave e muitos empresários e executivos de RH já o perceberam há muito tempo. Estamos diante de um grande grupo de “novos analfabetos”. Mal sabem escrever ou ler, mal sabem falar ou ouvir. Não tem qualquer curiosidade científica, não leem livros, não assinam publicações técnicas, não consultam dicionários, não estudam, não treinam. Em uma palestra para um grupo de representantes comerciais, pessoas que vivem quase que unicamente da venda, todos admitiram que NUNCA participaram de um treinamento em vendas. Os novos analfabetos nem mais se dão ao trabalho de revisar a ortografia do que escrevem no Word. Ontem li uma proposta de um fornecedor de consultoria em TI para um cliente meu onde estava escrito “atender as suas ESPECTATIVAS”. Noutro dia, recebi um email de um advogado que se dizia “ANCIOSO” para comprar o meu livro. Em recente auditoria em uma fábrica, perguntei para um jovem engenheiro o que significava a variável k=2 escrita em um certificado de calibração que ele aprovou e ele me disse, mesmo tendo aprovado o instrumento: “nem desconfio...”. Gerentes não conhecem os indicadores de desempenho mais básicos para suas áreas e não os procuram nem no Google. Os novos analfabetos não têm ordem de grandeza. Leem muitas notícias rápidas nas manchetes da Internet e não conseguem entender o contexto destas notícias nem porque elas aconteceram ou as suas repercussões. Duzentas mil pessoas morreram no Haiti, mais de duas centenas morreram nas chuvas do Rio, um crime hediondo aqui e outro ali, fome na Índia, corrupção no Brasil. Mas e as causas? Nem pensar pensar nisto... Ah, em tempo: estes “profissionais”, os novos analfabetos, assumem ares de importância e sempre têm a opinião que ganham muito pouco...

Os novos analfabetos têm uma desvantagem em relação aos analfabetos antigos: não sabem que são analfabetos. Aqueles de então sabiam, estes de hoje não sabem. É a ignorância dupla, como diziam os gregos: eu não sei que não sei!

O que fazer? Oriento os empresários a selecionar profissionais com extremo rigor. Alguns me perguntam se isto não vai aumentar o valor da folha de pagamento. É claro que vai, mas vai também reduzir uma série de outros custos, oriundos da burrice e do relaxamento. Quem contrata gente ruim para pagar pouco ESTÁ INVESTINDO NA IGNORÂNCIA. Como disse um gerente em um cliente meu: “Quem deita com vira-lata, acorda com pulga”.

Paulo Ricardo Mubarack