Referências

22/10/2012

Referências
Quando vem a encrenca e uma empresa se perde, para onde correr? Onde é o porto seguro, a casa dos pais, o lugar onde você se sente apoiado e protegido contra qualquer agressão? A Toyota e outras grandes empresas reverteram crises formidáveis praticando o back to basic, ISTO É, VOLTANDO PARA SUAS RAÍZES QUANDO A COISA APERTOU. Elas tinham para onde voltar. Releram seus princípios fundamentais de gestão e procuraram as causas de suas violações. Elas tinham onde buscar REFERÊNCIAS. Os americanos, na frente de qualquer crise, leem e rediscutem sua centenária constituição. .

Todos nós precisamos de referências. Nossas famílias, a escola, o trabalho ou até mesmo o time de futebol e a igreja. Por que conhecemos tantos fanáticos por futebol e que misturam suas vidas pessoais com os resultados do time? Porque, muito mais do que futebol, o clube funciona como referência, o futebol é apenas a folha de rosto.

A Toyota recentemente (2009 a 2010) levou duas pancadas: a recessão americana e quase mundial e, principalmente, os dez milhões de recalls nos USA, quando o presidente da empresa foi chamado ao congresso americano para prestar esclarecimentos. Operando em 2010 com prejuízo de quatro bilhões de dólares, a Toyota, passados dois anos, mostra claras evidências de recuperação financeira e de imagem.

Há duas perguntas cabíveis neste case Toyota: por que a montadora mais admirada do mundo chegou tão rapidamente nesta situação constrangedora e por que conseguir desvencilhar-se em tão pouco tempo?

A resposta para as duas perguntas é a mesma: CULTURA, o já consagrado back to basic. A Toyota chegou ao fundo do poço por ter abandonado princípios básicos de sua cultura e conseguiu rápida recuperação porque voltou para suas raízes (o básico), revitalizou seus fundamentos e apoiou-se na sua cultura que, obviamente, foi violada em alguns aspectos, mas sempre esteve longe de ter sido destruída.

O mais interessante neste caso é que a maioria das empresas terá dificuldades para entender o que escrevo. Cultura? Back to basic? Mas que bobagens são estas, alguns (muitos) poderão se perguntar. A crise foi financeira, foi de qualidade, foi de descumprimento de padrões ou, dirão os mais simplórios, são coisas que acontecem nos negócios.

Os mais “letrados” sabem que nada acontece por acaso e que por trás de crises financeiras e da qualidade, existe a tal da CULTURA. A CULTURA representa o mindset, isto é, a mentalidade que predomina em qualquer ambiente. Na Toyota, historicamente, a mentalidade diz: “nunca devemos apontar terceiros como culpados e nem devemos apontar culpados. Somos sempre os responsáveis por nossos problemas e crises e precisamos, de forma lúcida, encontrar as causas, eliminá-las com planos de ação e depois auditar para verificar a eficácia de nossos planos”.

Assim como na Toyota, a cultura americana também sempre se apoiou na constituição dos Estados Unidos quando as crises vieram e quando houve sérias violações do mindset americano. O ponto não é a existência ou não de problemas graves e de crises. O ponto é: quando estas coisas ruins vierem, sua empresa tem onde buscar o back to basic? Ou correrá atrás de milagres, de forma confusa, empilhando erros e mais erros?

Após estudar o case Toyota, a conclusão é triste: muitas empresas, quando se perdem, não têm para onde voltar. Seus acionistas e CEOs nunca entenderam como é importante a formação, a documentação, a implantação, a educação e a vigilância para preservação, da CULTURA. Ela é a única e poderosa referência que qualquer grupo humano pode buscar para sair de uma encrenca. Sem REFERÊNCIAS, o mundo fica mais confuso e perigoso do que já é normalmente.

Paulo Ricardo Mubarack