Uma história triste - desenvolver um novo negócio

13/04/2015

Uma história triste - desenvolver um novo negócio

A quase totalidade de membros de conselhos de administração, presidentes, diretores e acionistas principais das empresas brasileiras, de todos portes e segmentos, simplesmente não têm capacidade intelectual para compreender o que é um SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO e implementá-lo em suas organizações. Algumas destas pessoas possuem perfis empreendedores, todos são honestos e trabalhadores, mas estes atributos, embora sendo condições necessárias, são insuficientes para o sucesso. À implementação de SISTEMAS INTEGRADOS DE GESTÃO não há o plano B nem C. Não é uma opção, é a necessidade primordial de qualquer companhia que tenha sobrevivido aos primeiros anos nos quais apenas a energia do dono e dos principais empregados era suficiente.



Recebi e-mail de um ex-cliente perguntando-me sobre as causas que levaram um dos mais renomados bancos de investimentos do Brasil a fracassar na formação de um novo negócio, uma rede de drogarias com aproximadamente 1000 lojas, estruturada com incrível rapidez a partir da compra de redes menores no centro-oeste, norte, nordeste e sul do país, além de incorporar uma franquia no sudeste.

Quando esta nova rede surgiu, o poder financeiro do acionista principal assustou os concorrentes, gerando uma onda de fusões e aquisições entre arqui-rivais. Quando a nova rede abriu o capital em tempo recorde, outra onda de euforia e ações na casa dos 17 reais. Tudo isto aconteceu há cerca de 4 anos. Hoje, o leão de outrora mostra-se manso e caminha devagar, com ações valendo menos do que 1 real no momento em que escrevo este texto. Logicamente os acionistas estão muito satisfeitos e acabaram de trocar o segundo presidente. O primeiro dançou em janeiro de 2014. Agora teremos o presidente número 3, novas esperanças e a velha fórmula do fracasso: 3 presidentes em 5 anos, diretores entrando e saindo, muitas demissões e prejuízos gigantescos. O banco e a sociedade não precisavam de nada disto. Como eu era consultor de uma das redes adquiridas, treinei vários executivos e gestores desta rede durante vários meses, vi o problema por dentro, mas o tamanho da empresa, a arrogância de uns poucos e a inexperiência de outros tantos blindou a companhia contra qualquer iniciativa que pudesse dar certo.

Respondendo ao meu ex-cliente sobre as causas do fracasso, repito que o drama acontece quando a empresa não percebe o que um sistema de gestão pode dar como resultado. É duro de acreditar, mas maioria dos executivos das grandes empresas brasileiras, os membros dos conselhos de administração e os próprios acionistas majoritários são incapazes de entender o que significa um sistema de gestão. A organização utilizada como pano de fundo para este texto e inspiradora da pergunta é apenas uma dentre milhares de companhias onde acionistas, conselheiros, presidentes e diretores simplesmente não têm capacidade intelectual para entender e implementar um sistema de gestão. Espero que compreendam a gravidade da minha afirmação e repito: falta preparação intelectual para a compreensão dos benefícios de um sistema de gestão integrado, acima de qualquer outra estrutura da empresa. Não basta que executivos apoiem as consultorias e suportem financeiramente treinamentos em management. Eles precisam ser fanáticos e eu disse isto e repeti uma centena de vezes para os diretores da grande drogaria recém constituída. Eles simplesmente não dispunham de recursos intelectuais para entender. Observem que não estou chamando ninguém de burro, estou apenas dizendo que o grande erro de acionistas, conselheiros e executivos é NÃO ESTUDAR. Todos invejam, admiram e tentam imitar Jorge Paulo Lemann, mas não conseguem. Pensam que para alcançar resultados como ele e seus parceiros alcançaram e alcançam cada vez mais basta copiar os valores da AmBev ou ler o Sonho Grande. É ridículo. Eles precisam ESTUDAR. Lemann estudou em Harvard e seus dois sócios principais (além de Warren Buffet) são homens estudiosos também. Não basta ser empreendedor. Empreendedorismo sem gestão pode ser um desastre. Mas a maioria não estuda. Eles abrem os treinamentos, mas não ficam. Compram o melhor software, contratam os melhores consultores, mas não os ouvem. Acham que basta apresentá-los para os gestores e os resultados virão ao natural. Têm boa vontade, são honestos e trabalhadores, mas são despreparados para a gestão. Não entendem, por exemplo, o que é um desdobramento de metas. Não entendem como se faz um plano de ação. Não conseguem elaborar uma análise de Pareto ou definir um diagrama de causa e efeito, não entendem quando eu pergunto onde estão as premissas de um plano de negócios. Não conseguem! Classificam este trabalho como um assunto menor. Não exercem a liderança pelo exemplo. Se eles não usam as ferramentas, por que seus empregados usariam? Esta é a lógica surda que muitos não enxergam ou não querem enxergar. Depois, trancam-se nas salas de reuniões para contabilizar maus resultados e falam bobagens sobre problemas da vida real simplesmente incompreensíveis para eles. Este é o despreparo intelectual a que me refiro. Eles não abrem um livro de Jim Collins ou de Jack Welch com um lápis e um papel na mão e leem o livro de capa a capa, sublinhando as frases interessantes e fazendo listas de perguntas para esclarecer com seus consultores de confiança. Eles não fazem isto! O resultado é o prejuízo. E a probabilidade do desastre aumenta proporcionalmente ao tamanho do negócio que comandam. Enquanto escrevo, leio as últimas notícias na revista Exame sobre a pobre rede citada como exemplo neste texto e um dos motivos apontados para os enormes prejuízos financeiros é a “dificuldade para integrar as redes adquiridas”. Pudera! Sem um sistema integrado de gestão, como integrar? E os despreparados executivos acham que o sistema integrado de gestão é um software do tipo SAP!

Usei neste artigo apenas a pergunta do meu ex-cliente e o triste caso desta rede de drogarias como exemplo, mas ele vale para centenas de negócios semelhantes, menores e maiores do que este. E vale também para os fundos de investimentos e para os fundos Anjo, fantásticos para fazer dinheiro com operações financeiras, mas péssimos para gerir empresas no mundo real da indústria e do varejo. Salvo, é lógico, as exceções. A maioria, entretanto, sofre e dilapida o caixa de muita gente com esta ignorância que teima em perenizar-se. É de dar pena!